POEMA DA AUTO-ESTRADA
Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta
Vai na brasa de lambreta.
d
Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
g
Como guache lustroso,
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.
Fuge, fuge, Leonoreta.
bVai na brasa de lambreta.
Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
kGrita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pelo cintura.
Vai ditosa, e bem segura.
k
Como rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
oUrrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que enterra.
jTudo foge à sua volta,
o ceu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demonio com asas.
m
Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.
p
Fuge, fuge, Leonoreta
Vai na brasa de lambreta
l
António Gedeão
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